Cores e máscaras





A restauração da Igreja Matriz de São Roque era minuciosa . Os andaimes eram montados da porta de entrada e iam em direção ao Altar ,por etapas , a cada 4 ou 5 meses é que mudávamos de lugar . Somente na semana das festividades de São Roque , 16 de Agosto , é que a Igreja era liberada . A festa é até hoje um lugar importante de romaria dos fiéis , e recebe alguns mil visitantes todo ano. É uma loucura ! A Igreja fica o dia todo com um entra e sai de gente , querendo tocar na Imagem de São Roque . A tardezinha do dia 16 tem a procissão , onde o Santo sai e , acompanhado pelos fiéis , percorre algumas ruas do centro , que são decoradas no dia anterior por tapetes de serragem coloridos com desenhos muito bonitos. E termina na porta da Igreja Matriz com o povo gritando a todo instante :  



                " VIVA SÃO ROQUE !!!"




corredor da nave central da Igreja Matriz de São Roque


Anchieta e eu trabalhamos com dedicação durante todos esses 4 anos , limpeza das pinturas .... saia um caldo preto de sujeira e só assim chegávamos a cor original. Nas paredes laterais da nave central , da metade para baixo , havia uma infiltração de água de chuva causada pelo entupimento das calhas a todo instante , por folhas e pombos mortos . Depois de desentupidas as calhas e a parede seca , nós começamos a fazer o trabalho . E não era nada fácil .

Essa lateral que estou me referindo , a metade da parede para baixo da nave central , onde estão os anjos e os Apóstolos foi toda refeita , é nova ! Não se tinha como recuperar a antiga , pois havia caído a pintura toda. Assim como os desenhos ornamentais do teto , quase tudo foi refeito , igualzinho ao original . Hoje , quando ainda passo para visitar a Igreja ainda me surpreendo... não há diferença alguma no novo , feito por nós e o antigo , feito pelo Gentili .


Anchieta e eu


As cores eram as mais variadas , fazíamos todas em potes separados de plástico e as nomeamos ... mas acho que a linguagem criada era só nossa ...rs " roxo da máscara da flor " ," luz das bolinhas da corda ", " amarelo das volutas do teto" . Lá foi onde tive a certeza que minhas aulas de mistura de cores , pintando quadradinhos , tiveram um grande valor .
Acho que fizemos mais de 700 cores diferentes na Igreja toda , era muito detalhe , luzes , filetes e desenhos ornamentais com 7 a 10 cores . Era as vezes um dia inteiro para se fazer 4 ou 5 cores ,  dependendo do tom . Mas eu amava este trabalho !

                                                        

As pinturas artísticas dos anjos e Apóstolos , da Nossa Senhora e de São Roque e outros elementos sacros foram apenas retocadas , com um pincel bem fino , preenchendo apenas as lacunas deixadas pelos craquelês .

                                                              

A pintura ornamental que foi necessário refazer , foi um trabalho árduo a parte , as paredes normalmente tinham uma cor principal de fundo , e por cima variados desenhos sobrepostos feitos numa perfeição de proporção , distância e enquadramento. Copiamos os desenhos , passamos cada parte separadamente para um acetato e recortamos com um estilete , vazando assim o desenho que precisávamos . Depois a parede era marcada com uma fina linha de giz , e era enquadrado cada parte do desenho. Isso foi feito muitas vezes , eram muitos desenhos e muitos detalhes.



Um dos tetos da nave central com desenhos artísticos e ornamentais





          Detalhe bem de perto do teto antes do restauro



Aqui nesta foto a cima , temos o exemplo de um detalhe do teto antes do restauro ( esquerda ) e após o restauro (direita ) .

Somente naquele quadrado das estrelas , precisamos de 10 máscaras e quase 17 cores diferentes .